«É possível falar sem um nó na garganta / é possível amar sem que venham proibir / é possível correr sem que seja fugir. / Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.» A primeira estrofe de «Letra para um hino», do grande poeta Manuel Alegre (Águeda, 12 de maio de 1936), repercute o eco do lema da Universidade de Pádua: Universa Universis Patavina Libertas, «Liberdade de Pádua Universal para Todos». Libertas é também o tema que permeia a vida e a obra de Manuel Alegre, ressoando quase como uma palavra de ordem, uma direção existencial, um chamamento pessoal. É, portanto, na palavra Libertas que Manuel Alegre e a Universidade de Pádua se encontraram e se reconheceram, iniciando juntos uma viagem que começou com a inauguração da Cátedra, a 19 de abril de 2010, que tem continuado ininterruptamente até aos dias de hoje, com a organização de várias iniciativas, cuja mais importante é, sem sombra de dúvida, a atribuição da Laurea ad honorem, em “Línguas e Literaturas Modernas Europeias e Americanas”, ao poeta, no dia 22 de novembro de 2017; tudo no cenário sugestivo e magnificente da Aula Magna do “Palazzo del Bo”, sede da Reitoria da Universidade de Pádua. Um reconhecimento que a Universidade de Pádua quis dar a quem, nas palavras do Reitor, Prof. Rosario Rizzuto, é «um dos máximos poetas e romancistas portugueses contemporâneos. Esta ocasião é, para nós, ainda mais simbólica porque a Universidade, medalha de ouro ao valor militar para a liberdade, pode homenagear um dos principais protagonistas do longo processo cultural e político, pode homenagear um dos intérpretes mais atentos, um dos timoneiros de Portugal, que o guiou para novos horizontes culturais abertos, na segunda metade do século XX, seguindo um novo panorama político internacional», fazendo de Manuel Alegre «o ponto de referência para todos os que amam a liberdade e a democracia, e um mestre sobretudo para as novas gerações». Um sinete marca a liberdade como valor fundamental; precisamente o mesmo que Manuel Alegre recordou na sua Lectio magistralis: “LIBERTAS é a palavra-símbolo desta antiquíssima e nobre Universidade. Reconduzida a uma escala pessoal, posso dizer que também foi sempre a minha. Pergunto-me, neste momento, se mereço o reconhecimento que me estão a conferir. Não sei responder. Posso somente afirmar que sempre fui fiel à liberdade. Lutei por ela, vivi e sofri por ela, por ela escrevi cada verso, cada palavra. Pela liberdade do meu País e pelo direito à autodeterminação e à independência dos povos colonizados. Se este é o sentido de um reconhecimento tão alto, então sim, sem hipocrisia, confesso que me sinto digno desta palavra que é símbolo da Universidade de Pádua». Já com Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), a sua poesia tornou-se uma arma contundente e uma palavra de ordem magnética na luta pela reconquista da democracia, e para uma descolonização que devolvesse liberdade e direitos iguais a todos os cidadãos do ex-império português. Fortemente inspirado nos princípios da solidariedade fraterna entre os povos, Manuel Alegre renovou o grande legado da «lusitana antiga liberdade» camoniana, transformando-a numa marca inconfundível, que depois transferiu, em mais de cinquenta anos de empenho civil, para a sua escrita de homem político e parlamentar, e, ao mesmo tempo, de poeta e romancista insigne, numa obra ampla e articulada, traduzida e apreciada internacionalmente. Numerosos são os reconhecimentos, em pátria e no estrageiro, pela sua incansável atividade, que mostram a união da sua paixão civil com a sua palavra poética de originalidade férvida, rica de preciosos estilemas e das formas mais populares da tradição lusitana, fazendo de Manuel Alegre uma das máximas vozes da lusofonia. Entre os numerosos prémios e reconhecimentos, citam-se: a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada (2016), a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa (2016), o Prémio Vida Literária – Associação Portuguesa de Escritores (2015), o Prémio Consagração de Carreira Sociedade Portuguesa de Autores (2015), a Medalha de Oiro da Cidade de Coimbra (2015). Recentemente, a 28 de julho de 2021, ganhou, com a obra “Quando”, o prémio nacional de poesia “António Ramos Rosa”. Desde 2016 é Sócio Efetivo da Academia das Ciências. Em Itália, foi nomeado Grande Oficial da Ordem della Stella della Solidarietà Italiana (2007), e é cidadão honorário da cidade de Pádua desde 2010.

Manuel Alegre: poeta da liberdade

B. Gori
2022

Abstract

«É possível falar sem um nó na garganta / é possível amar sem que venham proibir / é possível correr sem que seja fugir. / Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.» A primeira estrofe de «Letra para um hino», do grande poeta Manuel Alegre (Águeda, 12 de maio de 1936), repercute o eco do lema da Universidade de Pádua: Universa Universis Patavina Libertas, «Liberdade de Pádua Universal para Todos». Libertas é também o tema que permeia a vida e a obra de Manuel Alegre, ressoando quase como uma palavra de ordem, uma direção existencial, um chamamento pessoal. É, portanto, na palavra Libertas que Manuel Alegre e a Universidade de Pádua se encontraram e se reconheceram, iniciando juntos uma viagem que começou com a inauguração da Cátedra, a 19 de abril de 2010, que tem continuado ininterruptamente até aos dias de hoje, com a organização de várias iniciativas, cuja mais importante é, sem sombra de dúvida, a atribuição da Laurea ad honorem, em “Línguas e Literaturas Modernas Europeias e Americanas”, ao poeta, no dia 22 de novembro de 2017; tudo no cenário sugestivo e magnificente da Aula Magna do “Palazzo del Bo”, sede da Reitoria da Universidade de Pádua. Um reconhecimento que a Universidade de Pádua quis dar a quem, nas palavras do Reitor, Prof. Rosario Rizzuto, é «um dos máximos poetas e romancistas portugueses contemporâneos. Esta ocasião é, para nós, ainda mais simbólica porque a Universidade, medalha de ouro ao valor militar para a liberdade, pode homenagear um dos principais protagonistas do longo processo cultural e político, pode homenagear um dos intérpretes mais atentos, um dos timoneiros de Portugal, que o guiou para novos horizontes culturais abertos, na segunda metade do século XX, seguindo um novo panorama político internacional», fazendo de Manuel Alegre «o ponto de referência para todos os que amam a liberdade e a democracia, e um mestre sobretudo para as novas gerações». Um sinete marca a liberdade como valor fundamental; precisamente o mesmo que Manuel Alegre recordou na sua Lectio magistralis: “LIBERTAS é a palavra-símbolo desta antiquíssima e nobre Universidade. Reconduzida a uma escala pessoal, posso dizer que também foi sempre a minha. Pergunto-me, neste momento, se mereço o reconhecimento que me estão a conferir. Não sei responder. Posso somente afirmar que sempre fui fiel à liberdade. Lutei por ela, vivi e sofri por ela, por ela escrevi cada verso, cada palavra. Pela liberdade do meu País e pelo direito à autodeterminação e à independência dos povos colonizados. Se este é o sentido de um reconhecimento tão alto, então sim, sem hipocrisia, confesso que me sinto digno desta palavra que é símbolo da Universidade de Pádua». Já com Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), a sua poesia tornou-se uma arma contundente e uma palavra de ordem magnética na luta pela reconquista da democracia, e para uma descolonização que devolvesse liberdade e direitos iguais a todos os cidadãos do ex-império português. Fortemente inspirado nos princípios da solidariedade fraterna entre os povos, Manuel Alegre renovou o grande legado da «lusitana antiga liberdade» camoniana, transformando-a numa marca inconfundível, que depois transferiu, em mais de cinquenta anos de empenho civil, para a sua escrita de homem político e parlamentar, e, ao mesmo tempo, de poeta e romancista insigne, numa obra ampla e articulada, traduzida e apreciada internacionalmente. Numerosos são os reconhecimentos, em pátria e no estrageiro, pela sua incansável atividade, que mostram a união da sua paixão civil com a sua palavra poética de originalidade férvida, rica de preciosos estilemas e das formas mais populares da tradição lusitana, fazendo de Manuel Alegre uma das máximas vozes da lusofonia. Entre os numerosos prémios e reconhecimentos, citam-se: a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada (2016), a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa (2016), o Prémio Vida Literária – Associação Portuguesa de Escritores (2015), o Prémio Consagração de Carreira Sociedade Portuguesa de Autores (2015), a Medalha de Oiro da Cidade de Coimbra (2015). Recentemente, a 28 de julho de 2021, ganhou, com a obra “Quando”, o prémio nacional de poesia “António Ramos Rosa”. Desde 2016 é Sócio Efetivo da Academia das Ciências. Em Itália, foi nomeado Grande Oficial da Ordem della Stella della Solidarietà Italiana (2007), e é cidadão honorário da cidade de Pádua desde 2010.
2022
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Utilizza questo identificativo per citare o creare un link a questo documento: https://hdl.handle.net/11577/3452902
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